sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Repensando o Natal (Parte 2)


Dando sequência ao assunto que discutimos semana passada (AQUI), hoje, continuaremos a propor algumas idéias para nos fazer repensar aquilo que se tem convencionado como práticas natalinas. O nascimento de Cristo é uma belíssima data, pois é nesse dia que lembramos que o Verbo Eterno se fez carne, esvaziando-se de si mesmo e habitou entre nós. Deus se fez homem, colocando seu coração na nossa miséria, com o fim de nos tirar dela.
Tendo em vista tamanho ato de amor, graça e misericórdia, não podemos desprezar a importância do natal, ou mesmo enxertá-lo de significados fúteis, mentirosos e vazios. Assim, continuemos a aprender um pouco mais sobre essa célebre data.
Presépio Como dissemos, o natal nos mostra a ação do Deus Eterno assumindo a forma de servo. Nesse sentido, o presépio talvez seja um dos símbolos natalinos que melhor representa isso, mas ao mesmo tempo, seja a representação natalina usada da forma mais enganada. Pois ao invés de representar o que a Bíblia diz sobre o nascimento de Jesus, representam aquilo que as crendices populares falam. De acordo com Lucas 2.1-7, o Rei dos reis nasceu numa estrebaria. Um local simples, rude e impróprio para o nascimento de qualquer criança. Mesmo assim, José, Maria e o recém nascido Jesus tiveram que se abrigar naquele lugar por causa da superlotação da cidade naqueles dias em que o Império Romano promovia o recenseamento. A estrebaria era um local usado para abrigo e tratamento de animais, que poderia ser o porão de uma casa, ou um anexo à mesma, pois naqueles dias era comum essa prática. Mas o que normalmente é usado para representar a estrebaria é uma gruta ou uma choça num ermo aos arredores de Belém. Podemos deduzir, com mais possibilidade de acerto, ser a estrebaria num porão, do que numa gruta por causa do anjo que não forneceu aos pastores muitos dados acerca do local do nascimento, mas disse que era "na cidade de Davi", que é Belém, logo, deveria ser um local mais conhecido e não tão isolado. Esse lugar impróprio para moradia foi adaptado para receber aquela família e para acomodar o menino, fizeram da manjedoura um berço. A qual era um cocho de pedras fixo e firme. Uma obra de alvenaria feita no lugar. Tão firme que poderia ser usada para amarrar animais (Lc. 13.15). Nela se dava de comer e beber aos animais. Quando dizemos adaptada, quer dizer que o local foi minimamente preparado, não pensem que havia animais por todo lado, inclusive um comendo forragem no cocho transformado em berço. Certamente José tirou os animais do lugar e o que envolvia Jesus na manjedoura eram faixas e não capim (Lc. 2.12).
Os Magos – Outro erro comum associado ao presépio é visita de “uns magos do oriente” que aparecem em Mateus 2.1-12. Essa comitiva viera de terras distantes para ver o “rei dos judeus”. Esses homens do oriente eram pessoas de destaque, pois para serem qualificados como “magos”, poderiam ser astrônomos, astrólogos, matemáticos, químicos, ou religiosos de altas patentes acadêmicas, assim poderiam ser conselheiros reais semelhantes a Daniel. Porém a Bíblia não nos informa quantos eram, o que faziam e nem os seus nomes. O que temos a respeito desses homens são muitas lendas e crendices populares. Quanto ao número, várias foram as estimativas, contudo o mais difundido são três: Aliatar, Anason e Quissade (nomes dados no século XIII), ou Gaspar, Belchior e Baltazar (nomes dados no século XII). O que fortalece a teoria de que eram três magos são os três diferentes presentes (ouro, incenso e mirra). Mas tudo isso não passa de especulação e lenda, pois a Bíblia não nos dá esses detalhes. Há ainda aqueles que atribuem significados aos presentes dos magosAlguns atribuem significados aos presentes: Ouro: Aponta para realeza de Cristo; Incenso: Aponta para o ministério Sacerdotal de Cristo; Mirra: Aponta para sua morte. Mas o papel mais importante dos presentes dados pelos magos foi financiar a viagem de Jesus e sua família ao Egito. Visto que era uma família pobre.
Ainda tratando sobre os magos, um equívoco comumente cometido é dizer que os magos visitaram Jesus e sua família na estrebaria na noite do seu nascimento. Vemos isso em praticamente todos os presépios, teatros e filmes natalinos. Mas a narrativa Bíblica aponta para uma direção diferente, pois em Mateus 2.11 diz que os magos entraram na “CASA” e viram o “MENINO”. Ou seja, os magos visitam o menino Jesus (no grego “paidion” = menino pequeno) e sua família numa casa (no grego “oikia” = moradia). Diferente dos humildes pastores, aos quais o Anjo apareceu na noite do nascimento. Estes acharam uma criança (no grego “brephos” = recém nascido) envolta em faixas e deitada numa manjedoura. Além da diferenciação que podemos obter do grego, podemos deduzir que Jesus não era mais um recém nascido pelo fato de Herodes ordenar a morte das crianças de dois anos para baixo, conforme Mateus 2.16. Portanto, os pastores visitaram Jesus na manjedoura na noite do seu nascimento. Já os magos, encontraram Jesus numa casa quase dois anos depois do seu nascimento. Mas francamente, montar um presépio com magos ricos, bem vestidos e cheios de presentes, ao invés de pastores pobres e maltrapilhos é muito mais chique.
Tendo em vista tantos elementos lendários que cercam o nascimento de Jesus, para se evitar erros, convém que aceitemos a narrativa Bíblica do nascimento de Jesus dentro dos limites da sua realidade, sem nenhum acréscimo ou suposição fantasiosa que ultrapasse a verdade narrada nas Escrituras. Não celebre o Natal conforme as crendices populares, mas de acordo com a Palavra de Deus.

Obras consultadas e Citadas:

FONSECA, Salvador Moisés da. O Natal e sua celebração: história e simbologia. Patrocínio: CEIBEL. 2001. 3ª Ed. 20p.

TASKER, R.V.G. Introdução e Comentário do Evangelho de Mateus. Tradução de Odayr Olivetti. São Paulo: Vida Nova. 2007. 229p.


sábado, 23 de novembro de 2013

Repensando o Natal (Parte 1)

Li recentemente uma frase que achei muito interessante, e que diz: “Quando todos pensam iguais, é porque ninguém está pensando”. Gostaria de aplicar essa frase para o Natal e dizer que as atuais práticas natalinas têm sido pouco, ou nada pensadas. O que temos visto é uma constante reprodução cega daquilo que a sociedade e a mídia querem nos empurrar “goela abaixo”, ou seja, um pacote de lendas, mitos e mentiras.
O nascimento de Jesus, também chamado de Natal, é uma das datas mais belas para Igreja do Senhor Jesus comemorar e celebrar. Saber que o Verbo Eterno se fez carne a habitou entre nós é algo maravilhoso. Por isso, o povo de Deus precisa deixar de lado as falácias natalinas e abraçar o verdadeiro Natal.
Para nos ajudar a repensar o Natal, precisamos rever o significado de alguns símbolos que fazem parte dessa data e que podem compor nossas ornamentações. Vejamos alguns:
Arranjos Secos: Sementes ou cachos secos são usados na comemoração natalina. Eles expressam que sem Jesus não há vida. Assim, recomenda-se usá-los no início das ornamentações natalinas para ilustrar que sem Jesus, nosso vigor se torna em sequidão de estio.
Guirlanda ou coroa: Muito conhecida e usada nas portas, é composta por uma ramada verde arranjada em forma circular, envolta em fitas vermelhas e pode ser adornada com quatro velas (ou luzes). Nesse contexto, o verde simboliza vida e esperança; a forma circular aponta para a eternidade de Deus, sem começo e sem fim; as velas ou luzes representam as manifestações de Deus na história da humanidade, especialmente o nascimento da maior de todas as luzes; a fita vermelha representa a aliança de Deus com seu povo selada pelo sangue de Cristo.
Sinos: Ao longo da história os sinos têm sido usados como avisos sonoros de alerta ou convocação. Para o Natal eles representam um aviso de que nasceu o Salvador e uma convocação a todos os povos, juntos, virem adorá-lo.
Velas ou Luzes: Representa Jesus como a luz do mundo que dissipa todas as trevas. A vela, em especial, nos oferece uma ilustração ainda melhor, pois ao iluminar ela se consome. Assim foi a vida de Jesus, para que a sua luz pudesse brilhar em corações pecadores, ele morreu por nós.
Árvore de Natal: A primeira Árvore de Natal iluminada foi usada por Martinho Lutero e sua família na comemoração de Natal de 1525. Mas elas já eram usadas antes. Alguns condenam o uso da Árvore de Natal dizendo que ela remete ao culto pagão à Astarote. Acusação injusta, pois a Árvore de Natal não possui nenhuma ligação com culto pagão. Para nós Cristãos, ela tem um significado maravilhoso, uma vez que normalmente se usa árvores como o pinheiro, que está sempre verde, mesmo em tempos secos. Isso nos mostra que em Jesus sempre há vida e as bolas decorativas penduradas na árvore nos falam dos frutos da nossa união com Cristo.
Presépio: Talvez seja um dos símbolos natalinos usados da forma mais enganada. Pois ao invés de representar o que a Bíblia diz sobre o nascimento de Jesus, representam aquilo que as crendices populares falam. (Para maiores explicações veja a Próxima postagem sobre Esclarecimentos Natalinos). Porém, sendo retirados os elementos lendários, o presépio nos fala da humildade e humanidade de Cristo. Pois mesmo sendo Deus, despiu-se de sua glória e fez-se homem, nascendo da forma mais simples possível.
Mesmo com símbolos tão belos em aparência e significado, o Natal, muita das vezes, tem sido esvaziado do seu verdadeiro sentido e enxertado de pacotes coloridos, Papai Noel, festas onde se promovem glutonaria e bebedices. Pais que talvez nunca se assentaram com seus filhos para ensiná-los a orar e buscar a presença de Deus, nesses dias de Natal gastam horas ensinando seus filhos a escreverem cartinhas para o Papai Noel.
Vamos reaprender o verdadeiro sentido do Natal e aproveitar os símbolos natalinos para levarmos a mensagem do Evangelho para os nossos parentes e amigos, pois ao explicar os significados dos símbolos, estaremos apontando para Jesus, o verdadeiro sentido do Natal.

Baseado na Obra de:

FONSECA, Salvador Moisés da. O Natal e sua celebração: história e simbologia. Patrocínio: CEIBEL. 2001. 3ª Ed. 20p.

Oficiais da Igreja Primitiva

Os ofícios usados por Deus para edificação da sua Igreja no Primeiro Século

Desde o princípio Deus usou homens capacitados por ELE para determinados fins e tudo com o propósito maior de dirigir o Povo de Deus. Esses homens não possuíam nenhuma capacidade sobrenatural, algo como poderes paranormais. Todos eles eram homens normais em essência, mas na prática, nem tão normais, pois não é todo dia que vemos alguém orando e fogo descendo do céu, e outro fazendo os astros celestiais estacionarem em suas orbitas até que o Povo de Deus obtivesse a vitória. O que diferenciava esses homens dos demais era a capacitação vinda da parte do Espírito Santo de Deus.
No Antigo Testamento essa capacitação era intermitente e com fins específicos. Mas essa realidade mudou a partir do derramar do Espírito no Pentecostes, outrora profetizado por Joel em seu livro (Joel 2.28). Na nova dispensação, Deus passa a conduzir seu povo através da ação do Espírito Santo na vida de homens escolhidos para este fim, conferindo a estes dons espirituais, habilitando e capacitando-os para exercer seus ofícios dentro da Igreja do Senhor, ou seja, o novo Israel.
No contexto da Igreja Primitiva só encontramos dois tipos de oficiais: Presbíteros e Diáconos. Estes eram os homens responsáveis por conduzir a Igreja do Senhor Jesus nos primeiros séculos.
Os presbíteros eram os líderes e se dedicavam à direção das igrejas, ao ensino da doutrina cristã e à pregação do evangelho. A palavra grega “presbyteros” quer dizer "ANCIÃO". Nos tempos do NT os presbíteros também eram chamados de BISPOS. Tudo isso implicava no ofício de supervisionar o bom andamento da Igreja em todas as suas áreas. Os próprios apóstolos eram presbíteros (1Pedro5.1), mas os demais presbíteros não são apóstolos, pois o colégio apostólico estava restrito àqueles que acompanharam o ministério de Jesus. Podemos ver isso muito bem descrito em Atos: “20b Tome outro o seu encargo (bispado). 21 É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, 22  começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. 23  Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. 24  E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido 25  para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. 26  E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.” (Atos 1:20-26).
Portanto, qualquer reivindicação de credencial apostólica nos nossos dias é absurda, para não dizer mentirosa. Pressupondo que nenhum dos que testemunharam os eventos descritos no texto de Atos estão vivos, podemos dizer categoricamente que não existem mais apóstolos entre nós.
O último homem chamado para o apostolado, foi Paulo, o qual não se julgava merecedor dessa graça, chamando a si mesmo de “nascido fora de tempo”. “8  e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. 9  Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. 10  Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15:8-10) Mesmo nascido fora de tempo, Paulo atendeu às credenciais apostólicas e fora constituído “apóstolo dos gentios” Rm.11.13.
A outra classe de oficiais que auxiliavam os presbíteros na condução do povo de Deus, eram os Diáconos:
Os diáconos eram pessoas que ajudavam nos trabalhos de administração da igreja e cuidavam dos pobres, das viúvas e dos necessitados em geral. O diácono também pregava o evangelho e ensinava a doutrina cristã. Este oficialato foi instituído pelos apóstolos em Atos 6.1-7. Em função do crescimento da igreja, os apóstolos ordenaram a escolha de sete homens, crentes fieis que pudessem assistir os necessitados da Igreja.
Juntos com os presbíteros, os diáconos compunham a liderança da Igreja local, sobre a qual, os “plantadores de igreja” constituíam esses líderes primeiro, para depois seguirem no desbravar de novos campos (1Tm3.8; Tt.1.5-9).
Mas infelizmente, o que vemos ao longo da história, e especialmente em nossos dias, é uma crescente variedade de títulos eclesiásticos. Homens se “consagrando” apóstolos, patriarcas, arcanjos, papado, sacerdotes e tantos outros. Tudo isso em busca prestígio e reconhecimento dos homens. Pois aqueles que o Senhor reconhece são os presbíteros e os diáconos.
Acredito que pelos constantes escândalos envolvendo líderes de igrejas, títulos tão belos como pastor (que nada mais é um outro nome para presbítero), vem perdendo valor por parte da sociedade. Daí surge a necessidade de novos títulos, mas de nada adianta trocar o rótulo e conservar dentro de si a podridão do mundo e do pecado.

Homens do Senhor, não busquem para vocês títulos, mas busquem fazer a vontade de Deus. O ÚNICO MERECEDOR DE RECONHECIMENTO E DE TODOS OS SANTOS TÍTULOS É O NOSSO SENHOR JESUS. Nós não passamos de servos inúteis.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Santa Ceia - 1Coríntios 11.17-32

“Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior. Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio. Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio. Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” (1 Coríntios 11:17-32 RA)


Conforme vimos em um artigo já publicado (AQUI), dentre os Meios de Graça, estão os Sacramentos, os quais são Batismo e Santa Ceia. Recentemente, estudamos a respeito do Batismo e hoje veremos um pouco mais detalhadamente a respeito da Santa Ceia.
“A Ceia do Senhor, à semelhança da Páscoa, é essencialmente um sacramento comemorativo. A Páscoa fez o povo lembrar-se de como havia sido salvo do anjo destruidor por meio do derramamento do sangue do cordeiro pascal (Êx. 12.1-28). [...] A Ceia do Senhor faz a igreja lembrar-se do sacrifício de Jesus Cristo e de que, por meio de seu corpo oferecido e de seu sangue derramado, somos libertos da condenação que o pecado traz (Lc.22.19-20).” (ROSS, p.43) Com isso fica mais uma vez reafirmada a continuidade entre os Sacramentos, mudando apenas o modo como é administrado.
Tal qual a Páscoa do V.T., a Ceia do Senhor também exige do participante alguns requisitos. Para participar da Páscoa, era necessário ser circuncidado e estar cerimonialmente limpo, que nada mais é que estar com a vida em dia com Deus, longe de práticas pecaminosas (Nm.9.1-14). Por isso, dentro do contexto do N.T., que é o nosso, o participante da Ceia “Tem de ser convertido e identificado com Cristo por meio do batismo, vivendo em plena comunhão com sua igreja. Além disso, tem de ter capacidade espiritual para discernir, ou seja, entender a razão do sacrifício de Jesus Cristo (At.2.38; 1Co.10.18-22; 11.29)”. Isso é algo bastante sério, por isso Paulo exorta a Igreja de Corinto: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.” (1Co.11:28-30). Não negligencie a sua participação na Ceia do Senhor.
Para nos ajudar, vejamos o que o Catecismo Maior de Westminster nos orienta quanto ao preparo antes de participar da Ceia: “Os que recebem este sacramento devem preparar-se para o receber examinando-se a si mesmos, se estão em Cristo, a respeito dos seus pecados e necessidades, da verdade e da medida do seu conhecimento, da fé do arrependimento, do amor para com Deus e para com os irmãos; da caridade para com todos os homens, perdoando aos que lhe têm feito mal; dos seus desejos de ter Cristo e da sua nova obediência, renovando o exercício dessas graças pela meditação séria e pela oração fervorosa. Ref. 1Co.11.17-32; 2Co.13.5; Sl.139.23-24; Fp.3.8-9; Mt.5.23-24; 1Co.5.8”. É necessário considerar com seriedade o auto-exame antes de participar da Ceia do Senhor, e assim avaliar se “[...] Existe algo em nossa vida que impede a plena comunhão com Deus e com um irmão em particular? [...] A pessoa que tem algo contra o seu irmão, mas mesmo assim participa da ceia do Senhor, peca porque participa indignamente.” (ROSS, p.45). Dessa forma, aceite o conselho de Jesus: “vai primeiro reconciliar-te com teu irmão;” (Mt.5:24). Ou, se é um pecado contra Deus, confesse-o ao Senhor e busque com todas as suas forças deixá-lo, assim encontrará a misericórdia do Senhor (Pv.28.13).
Quando participamos da Ceia, estamos obedecendo a ordem de Cristo “fazei isso em memória de mim” (Lc.22.19; 1Co.11.24). Contudo, esta prática vai além de uma simples obediência a uma ordenança. Pois a Santa Ceia comunica bênçãos aos que dela participam. Não que os elementos (Pão e Vinho) tenham poderes especiais, mas cremos que a presença de Jesus é espiritualmente real na Ceia. No Sacramento da Ceia, recebemos a “[...] graça de uma comunhão cada vez mais íntima com Cristo, de nutrição e vivificação espiritual, e de uma crescente segurança da salvação.” (BERKHOF, 2009, p.604). Assim como a Páscoa fortalecia o sentimento e noção de que os participantes pertenciam a um povo separado dos demais, a Ceia traz isso, uma identificação do povo de Deus uns com os outros e com o seu Senhor. 
Para finalizar, “O ritual prescrito para a Ceia tem três níveis de significado para os participantes. Primeiro, ele tem uma referência passada à morte de Cristo, que relembramos. Segundo, ele tem uma referência presente à nossa nutrição comunitária advinda dele pela fé, com implicações sobre como tratamos com nossos co-irmãos de fé (1Co.11.20-22). Terceiro, ela tem uma referência futura por guardarmos o retorno de Cristo, sendo encorajados por esse pensamento.” (PACKER, 2004, p.186).
“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.” (Oséias 4:6). A falta de conhecimento estava trazendo morte aos participantes ignorantes da ceia na Igreja de Corinto. Por isso, reflita sobre o significado, profundidade e seriedade da Ceia e participe com zelo desse Sacramento.


Apêndice:

No tempo da Reforma, questões sobre a natureza da presença de Cristo na Ceia e a relação do rito com sua morte expiatória foram objeto de tempestuosa controvérsia. Sobre a primeira questão, a Igreja Católica Romana afirmava (e ainda afirma) a transubstanciação, definida pelo Quarto Concílio de Latrão, em 1215. Transubstanciação significa que a substância do pão e do vinho eram miraculosamente transformadas na substância do corpo e do sangue de Cristo, de modo que já não eram mais pão e vinho, embora parecessem ser. Lutero modificou isso, afirmando o que mais tarde se chamaria “consubstanciação” (um termo que Lutero não encorajou), ou seja, que o corpo e sangue de Cristo estão presentes em, com e sob a forma de pão e vinho, os quais se tornam, assim, mais do que pão e vinho, e não menos. As Igrejas ortodoxa oriental e algumas anglicanas dizem quase a mesma coisa. Zwínglio negou que o Cristo glorificado, agora no céu, esteja presente em qualquer forma que as palavras corporalmente, fisicamente ou localmente se adaptem. Calvino sustentou que embora o pão e o vinho se manifestem inalterados (ele concordou com Zwínglio que o é de isto é o meu corpo... meu sangue significa representa, não constitui), Cristo, através do Espírito, concede aos adoradores um verdadeiro gozo de sua presença pessoal, atraindo-os à comunhão consigo no céu (Hb 12.22-24, de forma gloriosa e bem real, não obstante indescritível.” (PACKER, 2004, p.186).

 Referência Bibliográfica
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Traduzido por Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã. 3ª Ed. 2009. 720p.
PACKER, J.I. Teologia Concisa. Traduzido por Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2ª Ed. 2004. 224p
ROSS, I.G.G. Curso Preparatório para  Pública Profissão de Fé. São Paulo: Cultura Cristã. Parte 2. 64p.

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domingo, 17 de novembro de 2013

O Batismo - Gn.17.1-14/At.2.37-39

“Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente. Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe falou: Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações. Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí. Far-te-ei fecundo extraordinariamente, de ti farei nações, e reis procederão de ti. Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.” (Gênesis 17:1-14 RA)
“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.” (Atos 2:37-39 RA)

Conforme vimos recentemente aqui no nosso Blog(AQUI), dentre os Meios de Graça, estão os Sacramentos, os quais são Batismo e Santa Ceia. Hoje, veremos um pouco mais detalhadamente a respeito do Batismo. Embora o entendimento acerca do Batismo seja simples, muito se tem discutido sobre o assunto, principalmente sobre o modo como o batismo é administrado (imersão, aspersão ou efusão); e pedobatismo, ou seja, o batismo infantil; Mas antes de tratarmos desses pontos, vejamos o sentido deste Sacramento.
Quando se pergunta no Breve Catecismo “O que é Batismo?”, ouve-se a seguinte resposta: “Batismo é um sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo significa e sela a nossa união com Cristo, a participação das bênçãos do pacto da graça, e a promessa de pertencermos ao Senhor. Ref.: Mt.28.19; Jo.3.5; Rm.6.1-11; Gl.3.27.” Assim, este Sacramento tem o sentido de formalmente inaugurar, ou selar nossa admissão junto ao Corpo de Cristo, tornando-nos co-participantes das bênçãos e responsabilidades dessa união. O Batismo também “[...] é um sinal de Deus que significa limpeza interior  e remissão de pecados [...] O batismo significa uma linha divisória na vida humana, porque significa um novo enxerto criador na vida ressurreta de Cristo.” (PACKER, 2004,p.181). Lembramos que embutidos neste “selo batismal”, estão as promessas da Regeneração; União com Cristo; Remissão dos Pecados e Consagração.
Estes aspectos acima mencionados são, em geral, tranquilos e comumente aceitos entre evangélicos, mas quanto ao modo de administração e ao pedobatismo, as discussões se acaloram.
Quando se trata do modo de administração do Batismo, encontramos três formas: aspersão, imersão e efusão. E “Todas as três formas satisfazem o sentido do verbo grego baptizo e a condição de passar sob a, ou emergir da, água purificadora.” (PACKER, 2004,p.182). Não importa da quantidade de água envolvida no batismo, o que importa é que seja feito com água e em nome do Pai, Filho e Espírito Santo. Por questões de praticidade, fazemos uso do batismo por aspersão. Mas “Os Batistas (e alguns outros) afirmam que o mergulhar ou imersão, seguida da emersão é o único modo certo do batismo, desde que este rito deve simbolizar a morte e a ressurreição espirituais do crente.” (BERKHOF, 1992, p.308). Na verdade, não achamos base bíblica para assumirmos que o único modo para o batismo é a imersão. Por outro lado, no V.T. a aspersão era constantemente praticada e muitos batismos do N.T. são logicamente impossíveis de terem sido realizados por imersão (At.9.17-18; At.16.25-34).
O Pedobatismo é outro ponto que por vezes tem provocado discussões. Este é outro ponto que discordamos dos Batistas e outros mais, que afirmam que o batismo é restrito aos adultos, por estes terem entendimento. Contudo, admitimos e praticamos o Batismo Infantil. Entendemos que os sacramentos são os mesmos tanto no Velho, quanto no Novo Testamento, Circuncisão e Páscoa no V.T. e Batismo e Santa Ceia no N.T. Embora os ritos sejam diferentes, a ordenança e o conteúdo espiritual é o mesmo. “No N.T. o batismo substitui a circuncisão como sinal e selo da entrada no pacto da graça. A circuncisão foi anulada (At.15.1-2; Gl.2.3-5), e se o batismo não a substitui, não há então rito iniciatório no presente. Mas Cristo claramente o instituiu como tal (Mt.28.19-20; Mc. 16.15-16). O Batismo se harmoniza com a circuncisão no significado espiritual, simbolizando a remoção do pecado (At.2.38; Tt.3.5). Além disso, em Atos 2.39 está ligado com a promessa. A exclusão das crianças no N.T. requereria um declaração inequívoca para esse fim, mas é exatamente o contrário que se verifica (At.2.39; Mt.19.14;).” (BERKHOF, 1992, p.312-313).


Referência Bibliográfica

BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã. Patrocínio: CEIBEL. 2ª Ed. 1992. 364p.

PACKER, J.I. Teologia Concisa. Traduzido por Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2ª Ed. 2004. 224p

ROSS, I.G.G. Curso Preparatório para  Pública Profissão de Fé. São Paulo: Cultura Cristã. Parte 2. 64p.

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sábado, 2 de novembro de 2013

ONDE ESTÃO OS FINADOS? - Por Augustus Nicodemos Lopes

2 de Novembro é "dia de finados" no Brasil. Boa oportunidade para se fazer a pergunta acima. Eu sei que a resposta óbvia é "enterrados no cemitério", mas eu me refiro à alma dos finados. A resposta bíblica pode ser resumida em alguns pontos, que não pretendem ser exaustivos, mas que representam o pensamento evangélico histórico e reformado sobre o que acontece após a morte.

1 - Imediatamente após a morte, as almas dos homens voltam a Deus. Seus corpos permanecem na terra, onde são destruídos.

2 - As almas dos finados não caem em um estado de sono ou de inconsciência após a morte.

3 - As almas dos salvos em Cristo Jesus entram em um estado de perfeita santidade e alegria, na presença de Deus, e reinam com Cristo, enquanto aguardam a ressurreição de seus corpos.
4 - Esta felicidade não é impedida pela memória de suas vidas na terra, uma vez que agora eles consideram tudo à luz de perfeita vontade de Deus e do Seu plano perfeito. 

5 - Sua felicidade e salvação é somente pela graça de Deus.
Eles não têm poder de interceder pelos vivos ou tornar-se mediadores entre eles e Deus.

6 - As almas dos perdidos não são destruídas após a morte, mas entram em um estado de sofrimento consciente e de escuridão, tirados da presença de Deus, enquanto esperam o dia do julgamento.

7 - Não há outros estados além destes dois após a morte. Não há qualquer base bíblica para a doutrina do purgatório e nem da reencarnação.

8 - Nem as almas dos salvos nem as dos perdidos podem voltar para a terra dos vivos após a morte. Todas os fenômenos considerados como a ação de almas desencarnadas deve ser atribuída à imaginação humana ou à ação de demônios.

A realidade da morte e da sobrevivência da alma deveria nos lembrar sempre das palavras de Jesus: "De que adiante ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"