sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Repensando o Natal (Parte 2)


Dando sequência ao assunto que discutimos semana passada (AQUI), hoje, continuaremos a propor algumas idéias para nos fazer repensar aquilo que se tem convencionado como práticas natalinas. O nascimento de Cristo é uma belíssima data, pois é nesse dia que lembramos que o Verbo Eterno se fez carne, esvaziando-se de si mesmo e habitou entre nós. Deus se fez homem, colocando seu coração na nossa miséria, com o fim de nos tirar dela.
Tendo em vista tamanho ato de amor, graça e misericórdia, não podemos desprezar a importância do natal, ou mesmo enxertá-lo de significados fúteis, mentirosos e vazios. Assim, continuemos a aprender um pouco mais sobre essa célebre data.
Presépio Como dissemos, o natal nos mostra a ação do Deus Eterno assumindo a forma de servo. Nesse sentido, o presépio talvez seja um dos símbolos natalinos que melhor representa isso, mas ao mesmo tempo, seja a representação natalina usada da forma mais enganada. Pois ao invés de representar o que a Bíblia diz sobre o nascimento de Jesus, representam aquilo que as crendices populares falam. De acordo com Lucas 2.1-7, o Rei dos reis nasceu numa estrebaria. Um local simples, rude e impróprio para o nascimento de qualquer criança. Mesmo assim, José, Maria e o recém nascido Jesus tiveram que se abrigar naquele lugar por causa da superlotação da cidade naqueles dias em que o Império Romano promovia o recenseamento. A estrebaria era um local usado para abrigo e tratamento de animais, que poderia ser o porão de uma casa, ou um anexo à mesma, pois naqueles dias era comum essa prática. Mas o que normalmente é usado para representar a estrebaria é uma gruta ou uma choça num ermo aos arredores de Belém. Podemos deduzir, com mais possibilidade de acerto, ser a estrebaria num porão, do que numa gruta por causa do anjo que não forneceu aos pastores muitos dados acerca do local do nascimento, mas disse que era "na cidade de Davi", que é Belém, logo, deveria ser um local mais conhecido e não tão isolado. Esse lugar impróprio para moradia foi adaptado para receber aquela família e para acomodar o menino, fizeram da manjedoura um berço. A qual era um cocho de pedras fixo e firme. Uma obra de alvenaria feita no lugar. Tão firme que poderia ser usada para amarrar animais (Lc. 13.15). Nela se dava de comer e beber aos animais. Quando dizemos adaptada, quer dizer que o local foi minimamente preparado, não pensem que havia animais por todo lado, inclusive um comendo forragem no cocho transformado em berço. Certamente José tirou os animais do lugar e o que envolvia Jesus na manjedoura eram faixas e não capim (Lc. 2.12).
Os Magos – Outro erro comum associado ao presépio é visita de “uns magos do oriente” que aparecem em Mateus 2.1-12. Essa comitiva viera de terras distantes para ver o “rei dos judeus”. Esses homens do oriente eram pessoas de destaque, pois para serem qualificados como “magos”, poderiam ser astrônomos, astrólogos, matemáticos, químicos, ou religiosos de altas patentes acadêmicas, assim poderiam ser conselheiros reais semelhantes a Daniel. Porém a Bíblia não nos informa quantos eram, o que faziam e nem os seus nomes. O que temos a respeito desses homens são muitas lendas e crendices populares. Quanto ao número, várias foram as estimativas, contudo o mais difundido são três: Aliatar, Anason e Quissade (nomes dados no século XIII), ou Gaspar, Belchior e Baltazar (nomes dados no século XII). O que fortalece a teoria de que eram três magos são os três diferentes presentes (ouro, incenso e mirra). Mas tudo isso não passa de especulação e lenda, pois a Bíblia não nos dá esses detalhes. Há ainda aqueles que atribuem significados aos presentes dos magosAlguns atribuem significados aos presentes: Ouro: Aponta para realeza de Cristo; Incenso: Aponta para o ministério Sacerdotal de Cristo; Mirra: Aponta para sua morte. Mas o papel mais importante dos presentes dados pelos magos foi financiar a viagem de Jesus e sua família ao Egito. Visto que era uma família pobre.
Ainda tratando sobre os magos, um equívoco comumente cometido é dizer que os magos visitaram Jesus e sua família na estrebaria na noite do seu nascimento. Vemos isso em praticamente todos os presépios, teatros e filmes natalinos. Mas a narrativa Bíblica aponta para uma direção diferente, pois em Mateus 2.11 diz que os magos entraram na “CASA” e viram o “MENINO”. Ou seja, os magos visitam o menino Jesus (no grego “paidion” = menino pequeno) e sua família numa casa (no grego “oikia” = moradia). Diferente dos humildes pastores, aos quais o Anjo apareceu na noite do nascimento. Estes acharam uma criança (no grego “brephos” = recém nascido) envolta em faixas e deitada numa manjedoura. Além da diferenciação que podemos obter do grego, podemos deduzir que Jesus não era mais um recém nascido pelo fato de Herodes ordenar a morte das crianças de dois anos para baixo, conforme Mateus 2.16. Portanto, os pastores visitaram Jesus na manjedoura na noite do seu nascimento. Já os magos, encontraram Jesus numa casa quase dois anos depois do seu nascimento. Mas francamente, montar um presépio com magos ricos, bem vestidos e cheios de presentes, ao invés de pastores pobres e maltrapilhos é muito mais chique.
Tendo em vista tantos elementos lendários que cercam o nascimento de Jesus, para se evitar erros, convém que aceitemos a narrativa Bíblica do nascimento de Jesus dentro dos limites da sua realidade, sem nenhum acréscimo ou suposição fantasiosa que ultrapasse a verdade narrada nas Escrituras. Não celebre o Natal conforme as crendices populares, mas de acordo com a Palavra de Deus.

Obras consultadas e Citadas:

FONSECA, Salvador Moisés da. O Natal e sua celebração: história e simbologia. Patrocínio: CEIBEL. 2001. 3ª Ed. 20p.

TASKER, R.V.G. Introdução e Comentário do Evangelho de Mateus. Tradução de Odayr Olivetti. São Paulo: Vida Nova. 2007. 229p.


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