sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As Festividades e Comemorações Judaicas como Expressões do Pacto

Por Vanderson Scherre Gomes

 Quando somos estimulados por apenas um de nossos sentidos, nossa capacidade de retenção de informações é bastante limitada. Mas quando usamos simultaneamente vários deles para um mesmo fim, a absorção de informações cresce consideravelmente.
Partindo desse princípio, podemos considerar as festividades e comemorações praticadas pelo povo de Deus como um método extremamente eficaz de memorização e recordação daquilo que Deus fez e ainda faria no meio do seu povo. COLEMAN (1991, p.263) confirma esta idéia dizendo que as festas do povo de Deus eram de cunho educativo. Ou seja, “O propósito divino nas festas de Israel era o de trazer o elemento temporal para o círculo de adoração. Eram os ‘encontros’ do Senhor com Israel pra comunhão, instrução e reflexão sobre o relacionamento e as responsabilidades da aliança.” (ELLISEN, 2010, p.53). HALLEY (2001, p.144) concorda com essa idéia e acrescenta “As festas de Israel tinham o propósito de manter Deus sempre nos pensamentos do povo e, num nível prático, promover a unidade nacional.” Apenas falar sobre o que Deus fez e ainda faria não tem a mesma eficácia do que cantar, dançar, comer, orar, ler, chorar e representar os feitos e as promessas de Deus. Segundo Halley, as festas exerciam uma influência tão grande sobre o povo, que umas das primeiras medidas de Jeroboão I, após a divisão das doze tribos foi estabelecer as próprias festas do Reino do Norte, a fim de que o povo não tornasse para Jerusalém, que estava sob o domínio de Judá (1Reis 12.26-27).
Devemos lembrar que nosso conceito de festa é bem diferente daquele praticado pela nação de Israel. Segundo Aurélio, a finalidade de uma festa é para divertimento. Mas o que observamos nas festas instituídas no Pentateuco é:
"As festas do Senhor do Antigo Testamento eram reuniões santas de todos os varões de Israel. [...] As Festas não eram festas para diversão. Eram ocasiões sérias e importantes, nas quais Israel honrava ao Senhor por seu relacionamento com eles." (Mahoney, 1996, p.3)
As festas originalmente estabelecidas no Pentateuco para que o povo de Deus as celebrasse são: Páscoa (Pessach), Pães Asmos, Primícias, Pentecoste (Shavuote), Trombetas (Rosh Hashaná), Dia da Expiação (Yom Kippur) e Tabernáculos (Sucote) (ELLISEN, 2010, p.52). Além dessas festas instituídas no Pentateuco, temos outras celebrações importantes que se referem a momentos históricos relevantes à nação de Israel e, por isso, também eram comemorados, tais como a festa do Purim e Dedicação. Todavia, como expressões do Pacto, apenas as sete festas estabelecidas no Pentateuco são relevantes para este estudo.
Tomando por base o calendário hebraico apresentado por ELLISEN (2010, p.52), veremos em ordem cronológica as festas estabelecidas no Pentateuco com suas finalidades.

Páscoa, Pães Asmos e Primícias

Apesar de essas festas possuírem seus significados particulares, elas eram celebradas em conjunto durante uma semana, ocasião na qual, todos deveriam ir para Jerusalém a fim de celebrar estas festas como nação. No livro de Êxodo 12.14-28 vemos o Senhor instruindo a Moisés para que este, por sua vez, instruísse o povo quanto aos rituais dessas festas, especialmente a páscoa.
A páscoa é um memorial do livramento do Senhor, “[...] livramento da servidão e morte no Egito e o fato de o Senhor tê-los adquirido como seus ‘primogênitos’” (ELLISEN, 2010, p.54). No Êxodo, Deus libertou a nação de Israel do julgo da escravidão Egípcia e também os livrou da morte dos primogênitos e assim foi instituída a páscoa, como um memorial, mas também uma tipificação daquilo que Cristo faria na cruz, libertando-nos da escravidão do pecado e salvando-nos da morte eterna. Na celebração da Páscoa o pacto é claramente expresso, pois evidencia a misericórdia de Deus libertando o seu povo, tipificando o Messias, que já veio cumprindo todos os rituais Pascoais, dando-nos salvação.
Enquanto “A Páscoa retrata Jesus resolvendo o problema da penalidade do nosso pecado. Os Pães Asmos retratam Jesus resolvendo o problema da prática do pecado.” (MAHONEY            , 1996, p.7, grifo do autor). A Festa dos Pães Asmos relembra a pressa com que os Israelitas saíram do Egito, não dando tempo para que a massa dos pães fermentasse. Mas ela representa o cuidado que devemos ter para com as nossas vidas a fim de mantê-la pura, limpa de qualquer pecado, pois servimos a um Deus santo, que é infinito em misericórdia, mas não tolera o pecado.
Se a Páscoa nos fala sobre a morte vicária de Cristo, as Primícias apontam para o Cristo ressurreto, ou seja, as primícias daqueles que ressuscitarão em glória. Segundo ELLISEN (2010, p.54) “As primícias tipificavam a ressurreição de Cristo como as primícias da ressurreição dos crentes (1Co 15.20,23)”. Mas historicamente, a Festa das Primícias refere-se a entrega dos primeiros frutos da colheita, nas palavras de MAHONEY (1996, p.10) o “trigo precoce constituía as primícias”, ou seja, aquele feixes que amadureciam antes do restante da colheita eram recolhidos e apresentados com oferta ao Senhor.

Pentecoste

De acordo com Mahoney, a Festa de Pentecoste, também chamada de Festa da colheita, ou semanas, acontecia 50 dias após o cumprimento da semana da Páscoa, mais exatamente, a partir do dia em eram apresentados os primeiros frutos. Concluída a colheita, celebrava-se o Pentecostes para “Agradecer a colheita da cevada, dedicar a próxima colheita do trigo e lembrar o livramento da escravidão do Egito.” (ELLISEN, 2010, p.54). Para Coleman, o fato da nação de Israel ser uma sociedade muito arraigada a agricultura faz da festa da colheita uma grande festa, a qual também atraia pessoas de toda parte para as imediações de Jerusalém, uma vez que o Pentecostes era uma das três grandes festas que os Israelitas deveriam comparecer diante do Senhor no templo.
Unger faz alguns apontamentos interessantes a respeito de alguns elementos dessa festa:
A nova oferta de manjares prenuncia a igreja. Os dois pães movidos (pães, não um molho de grãos soltos) ‘levedados’ antecipam aquele aspecto pelo qual os judeus (At 2) e os gentios (At 10) são unidos numa genuína unidade espiritual (1Co 12.13) pelo advento do Espírito no Pentecoste (At 1.1-4). (UNGER, 2006, p.100)
Essas informações muito nos esclarecem a cerca do aspecto profético dessa festividade. Celebrar o Pentecostes era sinônimo de gratidão a Deus pela colheita, pelo livramento da escravidão e a espera pelo dia em que judeus e gentios seriam arrebanhados num único aprisco, cujo pastor é Cristo.

Festa das Trombetas, Dia da Expiação e Tabernáculos

Essas três festas aconteciam no mesmo mês, aproximadamente outubro, que é o mês de tishri. De acordo com Ellisen, esse período festivo tinha seu início com a Festa das Trombetas, a qual era o marco inicial do ano civil e, também, uma convocação para que o povo de Israel comparecesse diante do Tabernáculo do Senhor, pois os dias que viriam pela frente seriam dias santos. Ainda segundo Ellisen, nesse dia a Trombeta (shofarin) era tocada com mais intensidade do que o normal. Diferente das comemorações até então citadas, as Trombetas não aponta para o passado, mas sim para o futuro. Pois ela aponta para o dia em que Deus convocará a todos para comparecerem diante dele. Ou seja, um dia o Senhor consumará o seu pacto.
O que se segue às Trombetas é o dia da Expiação. “Essa data tem um significado muito especial não só para os judeus como também para o cristianismo. [...] Era uma ocasião de reflexão, de arrependimento [...]” (COLEMAN, 1991, p.270). O Dia da Expiação era o único que o sumo sacerdote poderia entrar no Santo dos Santos. Ele se apresentaria diante do Senhor com o sangue de um bode, com a finalidade de obter perdão do Senhor para si mesmo e para todo o povo. Os rituais do Dia da Expiação “Tipifica Cristo, que expiou todos os nossos pecados, pagando seu preço e levando-os sobre si.” (ELLISEN, 2010, p.55). A Expiação deixa claro para o homem a sua inaptidão para cumprir a lei, ou seja, os “termos do pacto”. Por isso faz se necessário um redentor, alguém que nos liberte da condenação que recairia sobre nós.
“Após experimentar profundos sentimentos de remorso e tristeza, os participantes se entregavam às alegrias da Festa dos Tabernáculos.” (COLEMAN, 1991, p.271). De acordo com este mesmo autor, a comemoração do Dia de Ação de Graças se assemelha A Festa dos Tabernáculos. Durante os dias dessa festividade, o povo de Deus deixava o conforto de suas casas para habitarem em barracas feitas de folhas, lembrando se dos dias que o Senhor conduziu seu povo pelo deserto. O Senhor manteve-se fiel ao pacto, mesmo quando a nação de Israel mostrava-se como um povo de dura cerviz (Esse termo aparece sete vezes no Pentateuco).

Conclusão sobre as Festas como expressões do Pacto

Não foi sem propósito que o Senhor estabeleceu suas Festas. Ele tinha um propósito bem claro ao estabelecê-las, e este era fixar na mente e no coração do seu povo os seus grandiosos feitos e também apontar para o que estava por vir. Mostrar sua misericórdia e graça evidenciando o Pacto do Senhor com seu povo, sua manutenção e consumação.

BIBLIOGRAFIA

COLEMAN, William L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Tradução de Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora Betânia. 1991. 360p.

ELLISEN, Stanley. Conheça Melhor o Antigo Testamento: Um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. Tradução de Emma Lima. 2 ed. São Paulo: Editora Vida. 2010. 423p.

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. 3 ed. Editora Positivo. Versão Eletrônica 5.0.

HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 2001. 895p.

MAHONEY, Ralph. As Sete Festas do Senhor. Atos, Venda Nova, n.6, vol.11, 23p. Nov./Dez. 1996.


UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. Tradução de Eduardo P. e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 2006. 743p.

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