segunda-feira, 26 de outubro de 2015

EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS DO MINISTÉRIO DE JESUS


INTRODUÇÃO



A Fé Cristã Evangélica nunca foi e nunca será um convite para caminharmos nas trevas da ignorância. Antes, somos desafiados pela própria Escritura a estar “[...] sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,” (1Pedro 3:15 RA). Assim, tendo em vista o crescimento de movimentos ateístas e liberais teológicos, esta pesquisa serve como instrumento de solidificação e aparelhamento da Fé, buscando identificar nos achados arqueológicos e registros históricos elementos que corroborem a historicidade da pessoa e mistério Messiânico de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O escritor Josh Mcdowell tem prestado um importante serviço à Igreja nesse sentido, buscando através de acuradas pesquisas, comprovar aos céticos a validade e veracidade dos relatos das Escrituras. Em sua obra “Mais que um Carpinteiro”, Josh fala sobre precisão dos relatos bíblicos em relação a Jesus e no terceiro capítulo de seu trabalho ele nos apresenta o método que devemos empregar na verificação da narrativa dos Evangelhos em contraponto ao convencional método científico:


Precisamos entender a diferença entre prova científica e o que eu denomino prova histórica judicial. Deixe-me explicar. A prova científica baseia-se na demonstração de que algo é fato pela repetição do experimento em presença do indivíduo que o questiona. Porém, se o método científico fosse o único meio de se provar qualquer coisa, você não poderia provar, por exemplo, quem foi à aula ou ao trabalho hoje pela manhã, ou que almoçou. É totalmente impossível repetir tais eventos numa situação controlada. Então, temos aqui o que é a prova histórica, que se baseia na demonstração de que um fato realmente ocorreu, sem qualquer dúvida possível. Em outras palavras, é possível chegar-se a um veredito com base em provas concludentes. Isto é, não há uma fundamentação séria e razoável para se duvidar da decisão a que se chegou. Esta prova estriba-se em três tipos de testemunho: oral, escrito e de evidências. (MCDOWELL, 1980, p.32-33)


Com isso, empreenderemos o método histórico judicial na busca das Evidências do Ministério de Jesus, especialmente aquilo que a arqueologia tem a nos informar e que comprova que os autores dos Evangelhos foram fiéis em seus registros históricos. Afinal, “Quando alguém se apoia no método judicial, precisa verificar a fidelidade dos testemunhos.” (MCDOWELL, 1980,p.33)


1- Achados Arqueológicos



Embora não possamos reproduzir os fatos do primeiro século que cercam a vida e o ministério de Jesus, comprovando-o pelo método científico. Podemos aplicar o método histórico judicial e usar as descobertas arqueológicas para demonstrar o quão precisos e válidos são os relatos dos evangelistas que escreveram e história de Jesus.
Segundo Randall Price, em 1961, o arqueólogo A. Frova encontrou uma estela comemorativa a Tibério César, datada entre 26 a 36 d.C. com inscrição de Pôncio Pilatos. Mostrando com precisão a historicidade do governador romano que permitiu aos judeus crucificarem Jesus. Nos anais de Tácito, parte XV, relata quando Cristo foi executado. “[…] O nome deles se originava de Cristo, que sob o reinado de Tibério, havia sofrido a pena de morte por um decreto do procurador Pôncio Pilatos […]” (TENNEY, 2008, p.505).
Outro personagem que aparece nos relatos bíblicos e que a arqueologia comprova a sua existência é o sumo-sacerdote Caifás. O arqueólogo Z. Greenhut encontrou na Floresta da Paz, em Jerusalém no ano de 1990 o ossuário da família sacerdotal. “Le-se em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa (“Caifas”, “Jose, filho de Caifas”).22 O Novo Testamento refere-se a ele apenas como Caifas, mas Josefo apresenta o nome completo: ‘Jose, que era chamado Caifas do sumo sacerdocio’”. (PRICE, 2006, p.250).
O mesmo Price também nos mostra um achado de restos mortais de um homem morto crucificado. O osso do calcanhar estava perfurado por um cravo e junto ao cravo estava um pedaço da madeira da cruz. Isso comprova que a crucificação era praticada nos dias de Jesus e acontecia conforme os evangelhos relatam.
Outra menção a cristãos no primeiro século é a carta de Plínio (62-114 d.C.) ao Imperador Trajano. Plínio foi procônsul em Jerusalém e fez a seguinte menção aos cristãos: “[…] maldizer Cristo, um verdadeiro Cristão não o fará jamais… cantam hinos a Cristo, como a um Deus […]”[1].
Suetônio também nos oferece alguma pista sobre os cristãos do primeiro século, falando sobre a expulsão dos judeus de Roma, os quais estavam causando tumultos sobre a influência de tal de “Chrestus”.
Além destes, o historiador Flávio Josefo, contemporâneo de Jesus, também faz menções sobre Jesus:


“[…] por volta deste tempo levantou-se Jesus, um homem sábio, se, de fato, ele poderia ser chamado de homem. Pois ele foi autor de feitos maravilhosos, um mestre dos homens que recebem a verdade com prazer; e ele ganhou para si muitos dos judeus e, também muitos gregos (nação). Ele era o Cristo. E quando sob a acusação dos principais homens entre nós Pilatos o sentenciou à cruz, aqueles que o haviam amado primeiramente não cessaram; pois ele lhes apareceu no terceiro dia vivo novamente, sendo que os profetas divinos haviam profetizado isto e dez mil outras coisas maravilhosas a respeito dele. E mesmo agora a tribo dos cristãos, chamados segundo ele, não está extinta.[…]”


Antes de finalizar esse capítulo, ainda queremos falar sobre outro ossuário de calcário típico da época para se depositar os ossos na cidade de Jerusalém. O ossuário data de aproximadamente 63 d.C. e nele está escrito “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Para estudiosos no assunto, o ossuário trata realmente de Tiago que era o irmão de Jesus Cristo.[2]
Existem outros achados arqueológicos referentes a este período. Mas selecionamos estes por acha-los mais relevantes para o momento. Mas nenhum destes achados arqueológicos são tão relevantes quanto a narrativa dos Evangelhos. Portanto, doravante passaremos a tratar a respeito da autenticidade e precisão dos relatos dos evangelistas, mostrando que estes são a mais fidedigna evidência arqueológica do ministério de Jesus.


2- OS EVANGELHOS SÃO AS MAIORES TESTEMUNHAS



Os anos passam e as críticas sobre a Bíblia se amontoam, todavia elas não possuem poder para ofuscar o majestoso brilho das Escrituras. Referindo-se a Bíblia, o matemático e físico britânico Isaac Newton disse: “a rocha da qual os martelos dos críticos jamais conseguiram arrancar um único fragmentos.” (NEWTON, apud BLANCHARD, 2006, p.17) Isso porque as evidências que apontam para a pureza e fidelidade dos manuscritos bíblicos superam em muito a qualquer outra obra antiga. E é exatamente sobre isso que passarem a falar.
Segundo F.F. Bruce, “O Novo Testamento estava completo, ou substancialmente completo, por volta do ano 100 d.C., sendo que a maioria dos livros já existia cerca de vinte a quarenta anos antes dessa data.” (BRUCE, 2010, p.18). O que aproximam os registros dos fatos. Também mantendo próximos os registros daqueles que pessoalmente testemunharam os fatos, contribuindo grandemente para idoneidade dos registros. Nesse sentido, Bruce ainda afirma: “[...] não há como negar, de forma sensata, que a maioria dos documentos neotestamentários foi escrita no primeiro século [...]” (BRUCE, 2010, p.22).
Quando se trata das Escrituras, o problema dos críticos é querer que a Bíblia seja submetida a julgamentos que fogem aos padrões das críticas de documentos antigos. E todos os documentos antigos, nenhum se aproxima do Novo Testamento. Veja o que diz Mcdowell:


Atualmente sabe-se da existência de mais de 5.300 manuscritos gregos do Novo Testamento. Acrescentem-se a esse número mais de 10.000 manuscritos da Vulgata Latina e, pelo menos, 9.300 de outras antigas versões, e teremos hoje mais de 24.000 cópias de porções do Novo Testamento. Nenhum outro documento da história antiga chega perto desses números e dessa confirmação. Em comparação, a Iliada de Homero vem em segundo lugar, com apenas 643 manuscritos que sobreviveram até hoje. O primeiro texto completo e preservado de Homero data do século treze. (Mcdowell, 1996, p.43)


Em sua obra “Merece confiança o Novo Testamento” F.F. Bruce nos apresenta uma rica lista comparativa de documentos históricos antigos, tidos por verdadeiros, como De Bello Gallico, História Romana, Histórias de Tácito, todos eles preservados através de poucos manuscritos, os quais distam da fonte por séculos. Muito diferente dos Escritos do Novo Testamento. Assim, Bruce chega a seguinte conclusão: “[...] nenhum estudioso dos clássicos daria ouvidos à tese de que a autenticidade de Heródoto ou Tucídides é duvidosa pelo fato de seus manuscritos mais antigos, e que ainda são usados por nós, datarem de mais de 1300 anos após a escrita dos originais.” (BRUCE, 2010, p.24). Em contrapartida, a Bíblia possui fragmentos de papiro do ano 130 e 150 d.C., deixando-os muito próximo dos autógrafos.
Outra ampla fonte de comprovação do Novo Testamento são os escritos antigos dos Pais Apostólicos, cujos escritos remontam ao período de 90 a 160 d.C. Nestes escritos podemos encontrar muitas citações de textos bíblicos, evidenciando a familiaridade que estes autores tinham com os escritos do Novo Testamento. Passagens de quase todos os livros do N.T. podem ser encontradas em citações no “Didaquê”, “Epístola de Barnabé” ou no “Ensino dos Doze Apóstolos”.
Queremos ainda reforçar nossos argumentos apresentando algo Josh Mcdowell traz em sua obra Mais que um Carpinteiro: “O historiador militar C. Sanders aponta e explica os três princípios básicos de historiografia. São eles: o teste bibliográfico, o teste da evidência interna e o teste da evidência externa.” (MCDOWELL, 1980, p.40, grifo nosso). Passaremos a apresenta-los.


2.1- Teste Bibliográfico



O teste bibliográfico busca examinar a forma como texto foi transmitido ao longo dos anos até a nós. Isso é feito através do número de manuscritos disponíveis, qualidade e fidelidade das cópias e o intervalo entre o manuscrito e o autógrafo. Assim, sabendo que os manuscritos do N.T. sobejam em muito a qualquer outro texto antigo em todos estes aspectos (quantidade de manuscritos, qualidade, fidelidade e proximidade temporal com os autógrafos), Mcdowell chega a seguinte conclusão: “Quando examinamos a autoridade dos manuscritos do Novo Testamento, a abundância de material é quase constrangedora em contraste com outras obras.” (MCDOWELL, 1980, p.41) E na sequência, o mesmo autor continua a argumentar:


“Aplicando o teste bibliográfico ao Novo Testamento, veremos que ele possui maior base manuscrítica que qualquer outra peça literária da antiguidade. Juntando-se a isto o volume de crítica textual do Livro que já se faz há mais de cem anos, pode-se concluir que está estabelecida a autenticidade do texto do Novo Testamento.” (MCDOWELL, 1980, p.41)


Tendo o texto Bíblico passado ileso pelo teste bibliográfico, passamos para o próximo teste.


2.2- Teste da Evidência Interna



Enquanto o teste bibliográfico refere-se aos manuscritos a forma como estes foram transmitidos e preservados. O teste da evidência interna busca avaliar o que foi registrado. Ou seja, a precisão, fidelidade e coerência daquilo que foi relatado pelos escritores. Aqui, mais uma vez, os Evangelhos passam ilesos, pois precisamos levar em conta dois fatores. O primeiro é a proximidade dos acontecimentos e o seu registro e, em segundo lugar, a validação por parte de outras testemunhas que testemunharam os fatos. A esse respeito, Mcdowell argumenta:


Os relatos acerca de Cristo encontrados no Novo Testamento estavam sendo circulados nos limites do tempo de vida daqueles que foram contemporâneos dele. Essas pessoas poderiam, portanto, confirmar ou negara exatidão dos relatos. Os próprios apóstolos, ao defenderem sua apresentação da mensagem evangélica, haviam apelado (mesmo quando confrontados por seus ferrenhos opositores) ao conhecimento público geral a respeito de Jesus. (MCDOWELL, 1980, p.44)


Sabemos que até os opositores do Evangelho não podiam negar os feitos de Cristo. Seu ministério público foi notório a todos em seu tempo. Assim, aqueles que foram os primeiros leitores das cartas e dos Evangelhos não contestaram, antes confirmaram os registros.


2.3- Teste da Evidência Externa



O terceiro e último teste aponta para fontes externas, ou seja, outros escritores contemporâneos, ou mesmo registros arqueológicos que confirmem os relatos harmonizando-os na história. Nesse aspecto, podemos citar contemporâneos dos registros como Papias, discípulo do apostolo João, cujos escritos foram preservados por Eusébio e que confirmam a veracidade:


"O ancião (apóstolo João) costumava dizer também o seguinte: "Marcos, tendo sido o intérprete de Pedro, anotou acuradamente o que ele (Pedro) relatou, sejam as palavras ou feitos de Cristo, embora não em ordem. Pois ele não fora ouvinte nem acompanhante do Senhor, mas mais tarde acompanhou a Pedro, que ministrava o ensino de acordo com a necessidade do momento, mas não como se estivesse fazendo uma compilação das palavras do Senhor. Portanto, Marcos não errou, ao escrever do modo como fez, anotando as coisas à medida que ele as mencionava, pois tinha em mente uma coisa: não omitir nada que tivesse ouvido, nem introduzir qualquer informação falsa entre as outras." (EUSÉBIO, apud, MCDOWELL, 1980, p.47).


Papias não é o único que pode confirmar isto. Policarpo, outro contemporâneo, discípulo de João também confirma tais relatos. Além destes, temos também a arqueologia apresentada no primeiro capítulo deste trabalho. “A arqueologia, por vezes, fornece fortes evidências externas também. Ela contribui para a crítica bíblica, não no que tange à sua inspiração e revelação, mas oferecendo provas que evidenciam a exatidão dos eventos registrados.” (MCDOWELL, 1980, p.48).


CONCLUSÃO



Embora muitos tentem negar a historicidade do ministério e vida de Jesus. Percebemos que tempo abundantes registros Bíblicos e extra bíblicos que comprovam aquilo que os Evangelhos nos relatam sobre a pessoa do nosso Salvador.
Temos muito mais argumentos sólidos para afirmar a validade do Novo Testamento do que qualquer outro escrito antigo, pois se encontra preservado em muitos manuscritos, os quais estão mais próximos dos registros do que qualquer outro registro antigo.
Portanto, a manuscritologia, a arqueologia e o fiel testemunho de incontáveis gerações de cristãos são testemunhas fieis que atestam a o ministério de Jesus como verdadeiro.


REFERÊNCIAS



BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo Testamento? Traduzido por Waldir Carvalho Luz. 3ªEd. São Paulo: Vida Nova, 2010. 158p.
BLANCHARD, John. Por que Acreditar na Bíblia? Traduzido por Maurício F. dos Santos jr. São José dos Campos: FIEL, 2006. 54p.
MCDOWELL, Josh. Mais que um Carpinteiro. Traduzido por Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora Betânia, 1980. 113p.
MCDOWELL, Josh. Evidência que Exige um Veredito: Evidências históricas da Fé Cristã. Traduzido por Márcio Redondo. São Paulo: Editora Candeia, 1996. 331p.
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 3v.
PRICE, Randall. Arqueologia Bíblica. Traduzido por Sergio Viala e Luis Aron de Macedo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. 352p.



[1] Citação retirada do site: http://top10mais.org/top-10-evidencia-existencia-jesus-cristo/

[2] Citação retirada do site: http://top10mais.org/top-10-evidencia-existencia-jesus-cristo/

A Importância da Cidade de Jerusalém para o Reino Unido de Israel: Uma perspectiva geográfica


Introdução 

Quando lemos as Escrituras, seus comentaristas e até mesmo a história secular, é impossível não notar a relevância da cidade de Jerusalém. Desde os dias dos patriarcas até a era apostólica, Jerusalém foi palco de acontecimentos que marcaram de uma vez por todas a história do Povo de DEUS, bem como a história de toda a humanidade. Entretanto, dentre todos estes períodos, queremos destacar a importância desta cidade para o Reino Unido de Israel dentro de uma perspectiva geográfica.
Para tal, faremos um breve levantamento da história de Jerusalém antes da era monárquica Israelita, pontuando aspectos mais importantes segundo a narrativa bíblica. Em seguida, abordaremos os aspectos estratégicos, políticos e geográficos que permitiram a Jerusalém desempenhar um papel de polarização tão importante durante a monarquia.
Acreditamos que tudo isso nos ajudará a compreender um pouco melhor a forma do SENHOR agir no espaço geográfico para levar a bom termo os seus decretos eternos.




Falar da história de Jerusalém é um grande desafio, pois não estamos falando de uma cidade contemporânea, mas de um dos maiores ícones do mundo antigo, pois ainda nos dias do patriarca Abraão – que remontam a aproximadamente 2100 a.C. – já podemos perceber a existência de uma Jerusalém embrionária, naqueles dias conhecida como Salém, uma Cidade Estado dotada de estruturas governamentais e religiosas que convergiam na pessoa de Melquisedeque, rei de Salém, o qual também é chamado de “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18). Embora não existam testemunhos arqueológicos que comprovem a associação direta entre Salém e Jerusalém, muitos estudiosos de renome a sustentam, tais como: Bruce: “Melquisedeque de Jerusalém (esse nome ocasionalmente é abreviado como Salém, cf. Sl. 76.2)” (BRUCE, 2008, p.171); Robertson: “[...] na estrada que corre pela crista da cordilheira central da Palestina, teria chegado ao local de Salém. Mais conhecido pelo nome de Jerusalém, esta cidade, que é a mais importante de todas na história da redenção, fica no extremo norte das montanhas da Judéia.” (ROBERTSON, 2010, p70); Tognini:

A raiz IRW encerra a ideia de “fundamento”, ou “estabelecimento” e SALEM é o deus cujo altar-sede estava na cidade. Em Gên. 14.18 aparece apenas SALEM; o Salmo 76.2 desdobra a palavra SALEM e SIÃO. O mesmo acontece no registro da carta 290 de Tell El-Amarna, onde se lê: SALIM ou SALMANU. O Gênesis apócrifo diz taxativamente: “Jerusalém é Salém”. (TOGNINI, 1983, p.204)

A possibilidade da antiga Salém ser Jerusalém enriquece ainda mais o seu histórico, haja vista o fato de Melquisedeque estar associado à pessoa de Cristo, como nos mostra a carta aos Hebreus 5.6.
O primeiro contato de Abraão com o rei de Salém aconteceu após a batalha dos quatro reis contra cinco, quando Melquisedeque sai ao encontro de Abraão com pão e vinho e este lhe paga o dízimo e é por aquele abençoado. Mas ainda outro fato importante aconteceu nas imediações da antiga Jerusalém nos dias de Abraão. O monte Moriá, um dos montes que compõe o conjunto orográfico desta cidade, foi palco de um dos episódios mais dramáticos da vida de Abraão, “No monte Moriá, em Jerusalém, Abraão atou ao altar o seu único filho, o filho a quem amava (Gn.22.9-10). Felizmente, só foi exigido do patriarca que executasse esse sacrifício em seu coração [...]” (ROBERTSON, 2010, p.70).
Depois disso, a Bíblia se cala quanto aos rumos desta cidade, voltando a falar dela nos dias da conquista da Terra Santa com Josué, sucessor de Moisés. Todavia, ela não aparece mais como uma cidade amiga de Israel, e sim como uma das principais opositoras na conquista da Terra Prometida. Tal oposição não logrou êxito, mas Jerusalém provou ser uma cidade difícil de ser conquistada. “A cidade de Jerusalém fora tomada no tempo dos Juízes (Jz 1.8), mas não a fortaleza dos jebuseus. Essa ficava na colina sudeste, mais tarde chamada cidade de Davi ou Sião.” (UNGER, 2006, p.161).
Essa condição de conquista parcial da cidade dos jebuseus perdurou até os dias do reinado de Davi. Tal conquista era tida como impossível por parte dos jebuseus, pois confiavam nas barreiras naturais que impediam o avanço de qualquer exército: “Jerusalém está edificada sobre montes: a noroeste, o Acra; a nordeste, o Bezeta; ao ocidente, o Sião: ao oriente, o Moriá, e a suleste, o Ofel.” (TOGNINI, 1983, p.204). Esse conjunto de montes conferia a Jerusalém uma condição única. Uma vez que todo o seu contorno, com exceção da face norte, era formado de profundos vales em “V”, que por sua vez, eram acompanhados por muralhas densas e sólidas. Portanto, sitiar Jerusalém era uma tarefa difícil, dado que exércitos só poderiam chegar aos portões da cidade pela face norte. Nem mesmo os romanos entre 66 a 70 D.C. tentaram entrar em Jerusalém pelos lados cercados pelos vales.




Vimos no item anterior os obstáculos naturais que dificultavam a conquista completa e definitiva da cidade de Jerusalém. Assim, podemos nos perguntar: O que levaria um rei, que buscava sua consolidação em meio a uma nação dividida, a atacar uma fortaleza tida como inexpugnável? Não estaria Davi colocando em risco o seu reinado?
É bem verdade que Davi estava arriscando a sua coroa, pois uma derrota nessa fase de consolidação do seu reinado, certamente instigaria seus opositores a usurpar o seu trono. Mas os motivos que levaram Davi a empreender dura e acirrada campanha militar contra esta cidade (2Samuel 5.6-10) foram estes: 1-Localização estratégica do ponto de vista militar e geográfico: Da mesma forma que Davi e os líderes do povo de Deus que vieram antes dele tiveram dificuldade de conquistar Jerusalém, sob o domínio de Davi, Jerusalém se tornaria ainda mais sólida e resistente a qualquer investida militar adversária, como de fato se tornou. Além dos aspectos físicos da paisagem que compõe Jerusalém e que dificultam quaisquer ataques, temos também o fato de que Jerusalém estava mais centralizada dentro do território dominado por Davi. O que é uma vantagem do ponto de vista defensivo, pois qualquer ataque contra Jerusalém, obrigatoriamente, teria que se deslocar por longas distâncias dentro dos domínios de Davi antes de chegarem ao seu alvo principal, facilitando assim a organização de estratégias defensivas; 2- Politicamente Neutra: A tomada de Jerusalém e sua escolha como capital do reino também possui um forte viés político. “Sua tomada foi politicamente importante porque extirpou o último vestígio de controle cananeu na região, e deu ao reino uma capital neutra, situada entre Judá e Israel, mas pertencente a ambos.” (UNGER, 2006, p161). Segundo ROBERTSON, a escolha de Jerusalém como capital foi uma medida politicamente perfeita, pois sua localização próxima das tribos de Benjamim e Efraim (principais opositoras), mas ainda assim junto a fronteira de Judá (principal apoio) poderia apaziguar os ânimos de ambos os lados, canalizando a força das tribos para os conflitos externos. Portanto, Jerusalém valia o risco de ser conquistada.




Tendo uma vez dominado a cidade e eliminado os jebuseus, Davi tomou medidas para transformar e aperfeiçoar a nova capital. “Ele a ocupou e realizou um grande trabalho de reconstrução para fazer dela a capital digna do reino. [...] aparentemente começando as fortificações concluídas posteriormente por Salomão (cf. 1Rs 9.15,24).” (BRUCE, 2008, 515).
Mas o que transformou Jerusalém no principal ponto de convergência e polarização dos Judeus não foi o fato dela ser difícil de ser conquistada, ou mesmo o fato dela estar mais centralizada que a antiga capital Hebrom. Os dois elementos que conferiram tal proeminência a Jerusalém foram: a- a permanência do trono real em Jerusalém; b- e o principal, a transferência do Tabernáculo para Jerusalém, seguida da construção do Templo por Salomão. “A arca entrou em Jerusalém em meio a muita celebração e os levitas a colocaram na tenda que Davi havia preparado para ela. Jerusalém tornava-se o centro espiritual e político de Israel.” (ARNOLD, 2001, p214).
Enquanto capital política, Jerusalém passa a receber diariamente pessoas de todo o reino que buscavam estar na presença do rei, para que este pudesse julgar suas causas. A família real e todos os demais nobres também passam a ter Jerusalém como seu local de morada e principal ponto de referência. Consequentemente, comerciantes de todos os seguimentos também seriam atraídos para Jerusalém a fim de suprir a demanda por mercadorias que a nobreza geraria. Mais comerciantes implica também na presença de mais caravanas mercantes para abastecer os mercados de Jerusalém. Se somarmos a tudo isso o fato da Palestina como um todo estar no ponto de convergência de três continentes (África, Europa e Ásia), chegamos à conclusão que Jerusalém se tornou parada obrigatória de qualquer viajante entre estes continentes. Não é atoa que “Os cartógrafos medievais representavam o mundo por um círculo, com Jerusalém no centro.” (TOGNINI, 1983, p.11).
Todavia, o que fez de Jerusalém a cidade mais importante do Reino Unido de Israel em todos os tempos foi o fato dela ser a capital religiosa dos hebreus. O que implica na confluência periódica de toda a nação para Jerusalém para a celebração das festas estabelecidas pelo próprio Deus. Todos os anos, por várias vezes no ano, os israelitas subiam para Jerusalém com suas famílias para celebrarem três grupos de festas: No mês de Abib - Páscoa, Pães asmos e primícias; No mês de Sivan – Pentecostes; E no mês de Tishri - Festa das Trombetas, Dia da Expiação, Tabernáculos e Santa Convocação. Para ressaltar a importância dessas festividades e peregrinações para Jerusalém, podemos citar os vários cantos de romagem contidos no livro dos Salmos, os quais eram cantados enquanto as caravanas dirigiam-se para o Templo do SENHOR edificado por Salomão em Jerusalém. Essa prática ainda perdura nos dias de Jesus como nos relata o evangelista Lucas: “Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa.” (Lucas 2:41 RA) e podemos ver isso se repetindo ao longo do ministério de Jesus com seus discípulos, sempre indo e vindo a Jerusalém para as suas festividades (João 2.23, 5.1, 12.12) e também no cumprimento do Pentecostes (Atos 2.5).
Jerusalém exercia um poder de polarização tão forte sobre os israelitas, que Jeroboão, após a divisão do reino entre norte (Israel) e sul (Judá), percebeu isso, tomando a seguinte atitude:

Disse Jeroboão consigo: Agora, tornará o reino para a casa de Davi.  Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de Judá.  Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!  Pôs um em Betel e o outro, em Dã.” (1 Reis 12:26-29 RA)


Portanto, percebemos que a vida de todo o povo de Deus na nação de Israel, e até mesmo fora dela, era grandemente influenciada pela cidade de Jerusalém. Afinal, toda a sua vida religiosa e política estava profundamente arraigada a capital dos hebreus. Mas ainda gostaria de concluir com as palavras de Enéas Tognini:

[...] Jerusalém não era o centro do mundo, mas a cidade estratégica e estrategicamente posta por Deus, para onde se voltaria a atenção do mundo inteiro, “na plenitude dos tempos” (Gál.4.4) com o advento do Filho de Deus. Canaã era uma meta a ser alcançada. Temos, então, a razão de Deus fazer convergir o curso da história do mundo antigo para essa nesga de terra, disputada pelas potências do passado próximo e remoto e ainda na atualidade. A importância não está tanto na posição geográfica de Canaã, como no que nela se desenrolou, principalmente no que tange ao Messias o Filho de Deus. (TOGNINI, 1983, p.14)


  
Ao longo dessa breve pesquisa, nos foi possível perceber que desde os dias dos patriarcas, a Jerusalém embrionária (Salém), já tinha um papel relevante no plano da redenção. E assim como as Escrituras tiveram sua revelação de forma progressiva, Jerusalém também cresceu progressivamente em importância e relevância na história do povo de Deus até chegar a sua plenitude. E desde que foi elevada ao status de capital, sem sombra de dúvidas, Jerusalém tornou-se o maior centro polarizador para toda a nação.
Assim, as tribos de Israel que se encontravam dispersas nos dias que antecediam a conquista de Jerusalém, uniram-se em torno de sua nova capital e assim permaneceram durante o restante do reinado de Davi e durante todo o reinado de Salomão.


REFERÊNCIAS


ARNOLD, Bill T; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Tradução de Suzana Klaen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. 527p.
BRUCE, F.F. (Org.) Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Tradução de Valdemar Kroker. São Paulo: Editora Vida, 2008. 2271p.
ROBERTSON, O.Palmer. Terra de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. 143p.
TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa. 2.ed. São Paulo: Louvores do Coração, 1983. 230p.

UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. Tradução de Eduardo P. e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 2006. 743p.